agosto 31, 2007





Estou tentando arrumar as coisas
As pessoas estão falando sobre “coisas”
Vc adoraria saber quais são as novidades?
Sua vida me parece tão enfadonha
Seus pontos de vistas continuam os mesmos.

Mas pode deixar, vou te ligar ....
Uma foto do meu celular?
Mostrar a carreira que eu segui
Que tipo de sexo eu estou fazendo
Que planos eu não estou concretizando
E lendo livros que vc jamais vai ler
Ou de experiências em que vc não se arriscaria

Estou bem, sempre me mantendo animado.
Quer que eu conte uma piada? Ou vc prefere que eu lhe envie uma oração?
Vc pode me aplaudir
Estou tentando continuar nessa dança
Vc vai me aplaudir?
Se eu for energético e saudável?
Eu danço muito bem, quer me acompanhar?
Estou chegando ao fim, nem tivemos tempo de nos recordar.

De quanto vc não mudou nada
De como vc sempre esta certo
Como sua monotonia é segura
E de como seus problemas são maiores
Mesmo assim vc sempre estará melhor do que qquer um de nós
Eu vou dar um volta por ai
Eu sei que qdo voltar, seu ar cansado será o mesmo.
Terá animo de me aplaudir?
Meu tempo esta acabando, mas vc sempre será meu amigo.
As pessoas estão sempre falando o que fazer pra se sentir bem
Eu estou aplaudindo vc.



agosto 20, 2007

O amante - Annaud

- Ele é rico e não trabalha. Se fosse diferente seria terrível.
- É o ópio que consome sua força?
- Não, é a riqueza que o consome a força dele.
- Ele não faz nada, nada.
- Ele só faz amor. É como se essa fosse a profissão dele.



agosto 09, 2007

Não existem homossexuais

DE JOÃO PEREIRA COUTINHO

Acreditar que um adjetivo se converte em substantivo é uma forma de moralismo pela via errada

NÃO CONHEÇO homossexuais. Nem um para mostrar. Amigos meus dizem que existem. Outros dizem que são. Eu coço a cabeça e investigo: dois olhos, duas mãos, duas pernas. Um ser humano como outro qualquer. Mas eles recusam pertencer ao único gênero que interessa, o humano. E falam do "homossexual" como algumas crianças falam de fadas ou duendes. Mas os homossexuais existem?

A desconfiança deve ser atribuída a um insuspeito na matéria. Falo de Gore Vidal, que roubou o conceito a outro, Tennessee Williams: "homossexual" é adjetivo, não substantivo. Concordo, subscrevo. Não existe o "homossexual". Existem atos homossexuais. E atos heterossexuais. Eu próprio, confesso, sou culpado de praticar os segundos (menos do que gostaria, é certo). E parte da humanidade pratica os primeiros. Mas acreditar que um adjetivo se converte em substantivo é uma forma de moralismo pela via errada. É elevar o sexo a condição identitária. Sou como ser humano o que faço na minha cama. Aberrante, não?

Uns anos atrás, aliás, comprei brigas feias na imprensa portuguesa por afirmar o óbvio: ter orgulho da sexualidade é como ter orgulho da cor da pele. Ilógico. Se a orientação sexual é um fato tão natural como a pigmentação dermatológica, não há nada de que ter orgulho. Podemos sentir orgulho da carreira que fomos construindo: do livro que escrevemos, da música que compusemos. O orgulho pressupõe mérito. E o mérito pressupõe escolha. Na sexualidade, não há escolha.

Infelizmente, o mundo não concorda. Os homossexuais existem e, mais, existe uma forma de vida gay com sua literatura, sua arte. Seu cinema. O Festival de Veneza, por exemplo, pretende instituir um Leão Queer para o melhor filme gay em concurso. Não é caso único. Berlim já tem um prêmio semelhante há duas décadas. É o Teddy Award.

Estranho. Olhando para a história da arte ocidental, é possível divisar obras que versaram sobre o amor entre pessoas do mesmo sexo. A arte greco-latina surge dominada por essa pulsão homoerótica. Mas só um analfabeto fala em "arte grega gay" ou "arte romana gay". E desconfio que o imperador Adriano se sentiria abismado se as estátuas de Antínoo, que mandou espalhar por Roma, fossem classificadas como exemplares de "estatuária gay". A arte não tem gênero. Tem talento ou falta de.E, já agora, tem bom senso ou falta de. Definir uma obra de arte pela orientação sexual dos personagens retratados não é apenas um caso de filistinismo cultural. É encerrar um quadro, um livro ou um filme no gueto ideológico das patrulhas. Exatamente como acontece com as próprias patrulhas, que transformam um fato natural em programa de exclusão. De auto-exclusão.

Eu, se fosse "homossexual", sentiria certa ofensa se reduzissem a minha personalidade à inclinação (simbólica) do meu pênis. Mas eu prometo perguntar a um "homossexual" verdadeiro o que ele pensa sobre o assunto, caso eu consiga encontrar um no planeta Terra.